Quando era menino, morávamos na
cidade de São Paulo, no Bairro do Bixiga, tradicional reduto italiano da
capital. Minha vida exclusivamente urbana tomou novo rumo quando meu pai
comprou um sítio em São Miguel Arcanjo, próximo à cidade de Itapetininga,
sudoeste do Estado. Pude, com isso, conhecer de perto o universo interiorano,
caipira, pelo qual me enamorei e sou apaixonado até hoje. Os costumes caipiras,
dos quais ouvia falar nas histórias de meu pai, que nascera em uma fazenda no
interior de São Paulo, passaram a fazer parte de minha vida. Festas na roça,
romarias, modas de viola, passeio de mula, pescaria de traíra, isso tudo fazia
parte de meus finais de semana e férias.
Minha mãe, cozinheira de mão
cheia, se encontrou no fogão de lenha da casa do Sítio. Produzíamos feijão
bolinha e eu, que andava no lombo de um cavalo desde os primeiros raios de Sol,
comia pratadas de feijão bolinha com arroz de fazer inveja a roceiro. As
sobremesas não ficavam atrás: doce de sidra, de abóbora, de goiaba, de leite,
de leite talhado. Este último, o meu preferido, até hoje. Bestial, como diria
meu amigo René. Fico com água na boca de lembrar-me desses sabores de nossa
casa que, infelizmente, não voltam mais.
Havia também sabores
inesquecíveis de quitutes comidos fora de casa. No caminho para o Sítio
parávamos em uma lanchonete de Posto de Gasolina, em Sorocaba. Chamava-se OK.
Esta antes humilde lanchonete é hoje a rede de Churrascarias OK. Eles faziam um
bolinho delicioso, que não conseguíamos descobrir do que era recheado, portanto
o apelidamos de Bolinho Misterioso. Depois de vários anos ali parando o dono da
casa nos confidenciou que era recheado com a sobra dos espetos da
churrasqueira. Ela era moída, temperada e introduzida no Bolinho Misterioso.
Muito raramente, quando acompanhava meu pai para resolver algum negócio em
Itapetininga, almoçávamos no Restaurante Sacizinho. Lá comíamos outra coisa
muito boa, espetinhos de lombo suíno empanados com queijo ralado. Deliciosos,
uma tradição da cidade. Ao menos esse sabor ancestral tenho quando quero, pois
os Fogaça, proprietários do restaurante, me ensinaram a receita dos Espetinhos
de Itapetininga. Divido-a aqui com vocês. Podem fazer que não se arrependerão.
É puro sabor caipira.